Ela estava no metrô. Entediada,
se ajeitou no assento e começou a olhar os pés das pessoas. Sabe, dizem que
muito pode saber da pessoa olhando seu sapato... Bom, pelo menos ela
acreditava.
Ela desceria três estações depois.
Foi quando a menina paralisou os relógios do mundo e focou naquele all star
preto. Pergunto até hoje o que tinha tanto naquele all start preto que fascinou
nossa pequena menina. Era um all star
normal, sujo um pouco e sem vida. Não tinha nada de interessante - e ela veio admitir isso alguns dias atrás.
Os olhos claros da menina fitaram
os tênis por alguns minutos até que subiu o olhar para o rosto do dono do all
star. Era um rapaz de aparência simpática,
mas com beleza comum. Mas mesmo assim ela não conseguiu tirar os olhos dele. E
se eu acreditasse no cupido e sobre essas histórias que me contam sobre o amor,
ia dizer que uma flecha atirada pelo o anjo dos apaixonados acertou o coração
da menina - essa sim seria a explicação mais sensata de se pensar para aquele
caso.
Ela precisava descer. Desceu afinal, deixando
o amado para trás.
Mas que estranho... Ele também
descera. Coincidência? Destino? Nunca vamos saber. Só sei que a menina e o dono do all star
desceram na mesma estação. Caminharam para a mesma direção. Sentaram para
lanchar na mesma lanchonete. Saíram ao mesmo tempo de lá.
Você pode até pensar que a menina
fez de proposito ou até mesmo, o all star preto. Mas não, nenhum teve
intenção. Talvez a saída ao mesmo tempo
tenha uma dose de culpa da menina, mas não queremos estragar a história bonita,
não é mesmo?
Quando saíram da lanchonete,
seguiram em esquinas diferentes. E a menina achou que nunca mais ia ver aqueles
tênis e muito menos o dono. Mas que engano! Não é que se encontraram novamente
no ponto de ônibus mais tarde?
Talvez fosse a vida dando mais
uma chance para menina. “Vai lá besta,
puxa assunto... Esbarra sem querer nele... Descubra seu nome!” falou a
menina para si mesmo. Mas quem dera que
suas pernas correspondessem o fervor que ela sentia por dentro. Sentia
borbulhar e o coração parecia que ia sair pulando pela boca. Mas por fora,
estava completamente estatua, gelada. Não sabia mais como andar, e ainda se
perguntou como conseguia se manter em pé!
E a situação piorou quando olhos
esmeraldas da menina fixaram
cruzaram nos olhos cor de jabuticaba do rapaz.
Foi como se a terra parasse de girar e pudesse ouvir o estalo da última
folha na árvore caindo no chão. Não se
respirava, parecia que o ar estava ficando rarefeito. E as pernas tremiam como se o chão tremesse
sobre ela.
Não sei por quanto tempo esses
olhares se mantiveram. Talvez fosse segundos ou minutos. Pode ter até passado
anos. Ela nunca soube me responder. E
quem disse que o tempo importa?
Quando os olhos se desviaram, o
ônibus chegou.
Subiram no mesmo ônibus. Desceram
no mesmo ponto. Seguiram na mesma rua.
Só que ele foi para direita e ela
para esquerda. Só que ela não falou com ele e ele também não a olhou mais.
Ninguém soube de fato o que
aconteceu naquele dia. Se foi destino, coincidência ou coisas do coração. Não
sei se o mundo estava conspirando para que nascesse um amor naquela primavera.
Na verdade, nunca se soube se o menino percebeu todas coincidências daquele dia.
Se o menino notara a menina nos lugares. Se aquele olhar teve importância. Se
ele existiu de fato ou foi imaginação da menina.
Só sei que a menina nunca
esqueceu o all star preto que ele usava e
a sensação dos dois olhares se encontrando. Me pergunto até hoje o que
teria acontecido se ela fosse falar com ele. Mas isso nunca mais vamos saber.
Por que afinal, o menino nunca mais foi visto. E menina hoje é mulher e amanhã
se casa com um cara que nunca usou all start.
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